segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Festa de debutantes


Grazzi Yatña

- Ei, você aí! Vem cá, pertinho. puxa a cadeira. isso.
Só não me venha com aquela panfletagem do sindicato dos poetas outra vez.

- Você não cresce! Vai ler Haroldo de Campos e me deixe quieto, porra!

- Puta merda. Lá vem você falando como se estivesse num palanque. Meu filho,
olha bem pra minha cara e para de olhar pro meu rabo.

- Tenho ganas de te matar, compreende?

- Sério? Não aprendeu que streap tease de banguela só pode dar em VEXAME?

- PUTA! VAGABUNDA ESCROTA!

- Hi. Que foi? Cansou de ler Germinal? Escreve no cacete: "Fui".
E se funcionar, não me avisa.


..

- Psiu..ei, você aí..você mesmo..

- Eu? Tem certeza?

- Claro! E por que não?

- Sei lá, achei estranho. Ninguém nunca me chamou assim.

- Assim como?

- Com esse tom de voz, esse jeito de quem não quer nada..

- E não quero mesmo, ué.

- Então pra que me chamou?

- Pra me confundir. Mas deixa pra lá..
..


- Ahhhhleluiaaaaaaa!

- Já sei. Outra Maluca saindo da festa.

- É..mas delícia não vem com metonímia, viu?
..

domingo, 11 de outubro de 2009



Grazzi Yatña

Batatas.

Tenho pensado em batatas de forma renitente durante a maior parte da vida.

Desde criança, essa inquietante questão- não acerca das batatas, que fique claro, mas sobre as batatas em si, tomava-me de sobressalto como pipocas saltando da panela inadvertidamente, visto que não havia sido milho o que ali fora jogado.

A primeira vez que me dei conta delas foi na cozinha, aos seis anos. Adentrei o recinto, e logo na soleira daquela porta algo me tomou de solavanco e dominou-me o espírito de tal forma que sentei-me quieta diante da minha vó, que descascando batatas do outro lado da mesa me fascinava com sua dedicação feroz a elas.

As feições impressionantes da minha vó descascando batatas ficou gravada na minha memória de tal maneira que tornou-se um desafio de gigante decifrar o que estava por trás daquele enigma.

Alguns longos minutos fiquei ali, os braços cruzados me apoiando o queixo por cima da mesa, olhar fixo no objeto da minha solene adoração. Ela quase nem levantou o olhar, apenas escolheu minuciosamente uma das maiores batatas deitadas no seu avental, colocou-a a alguns centímetros de mim e disse secamente: "Agora pegue a outra faca".

Obedeci como quem espera flores de um amante e recebe uma jóia e então ela sorriu me olhando nos olhos finalmente. "Se você conseguir descascar essa batata mais rápido do que eu, farei um bolo só para você hoje".

Balbuciando, tentei argumentar infantilmente e com palavras que não lembro mais exatemente quais foram, que isso não era justo, visto que ela tinha muitos anos de experiência na minha frente e que eu não conseguiria, naquele momento, fazer nada melhor nem mais rápido do que ela.

Enquanto eu tentava expressar o que só tenho plena idéia do que seria absolutamente hoje, ela avançou sobre minha mão com sua faquinha amolada e quase me tirou um naquinho de dedo. Apavorada e seduzida pelo pavor, a xinguei de muitos nomes feios.
Ela deu uma sonora gargalhada e disse: "Fia, você é rápida o bastante, agora pegue a faca".

Dias depois, me ensinou a degolar galinha pra fazer molho pardo.
..

domingo, 27 de setembro de 2009

Telegrama

Grazzi Yatña

Por um segundo de antecipação ele perdera o trecho importante.

Não lembrei mais onde caberia uma vírgula, acrescentei um ponto e voltei a procurar meu isqueiro. A fumaça me fascina desde menina e cá eu tenho minhas fidelidades ao que me coloco à boca. Os outros me dão com filtro.

Achando graça, exclamei no lugar de cócegas e fiz garganta. A noite finalmente voltou e eu já acolhia meu sorriso invulnerável que não late, uma sombra me aquecendo o bloco de anotações.

Servirei o jantar cru e sem luz de velas.

Enquanto isso, a noroeste do coturno, por todo lado há fronteiras, é o que disseram.
Dei a meia-volta, soprei o guardanapo branco pousado no colo do desprevenido,
que gemeu a salamandra desértica no copo que bebeu.

Onde há espécie, alguma necessidade é absorvida e vira única pena: língua.

Dá uma trabalheira da porra não querer dizer nada a ninguém.
..

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Carta

Por acesa e apagada a carta, tantas vezes, agora não tenho mais ânsia de te encontrar ouvinte. Nem desprezo por não tê-lo cola e selo.
Ao lado da cama, esse abajour sinaliza suas leituras, telefonemas e a medicação que alivia o peso dos lugares onde, sabe-se, talvez eu nunca tenha estado.
O que não te parece, no entanto, é, e a ponto de cegar o livro que mira seu olhar sonâmbulo: livre, não te toco.
A minha liberdade te humilharia, e em gozo, evito. O poder zomba da sua cara ( não sorrio sob o leque, é recato ). Olhe bem: você foi o homem que amo. Inclusive, me serve.
Sei o quanto odeia meu ciúme e costumava te castigar com a exata noção de sua fragilidade, estando ao lado de alguém como eu. Sim, você é quase ridículo, bancando o rei do pirulito jovem e universal, desejando uma moça que, vejamos, poderia estar fumando uma maconha- bob-marley-quer-prostrar-para-Haillé-Selassié, em companhia de nossa filha, ou de nossa avó, e ainda encontrar dignidade nisso.
A cena é de todos, eu sei.
Mas suas tragédias (em tempos tais) arrepiam o mais dedicado neófito, aquele ali de vermelho, fazendo sangue-ioga, com calculadora na mão e uma vaca na fala.
Como eu dizia, esta carta não pede.
O relógio é antigo como o entorno de minha insônia.
Não fumo. Hoje, então, guardei um cigarro seu para fumar na janela, olhando as montanhas mais para lá. Você atenderia o telefone, como em outras madrugadas. Enquanto isso, eu fumaria o meu cigarro, quase uma viagem a Paris.
E que seja.
Em mim, uma outra riqueza acena.
Ainda não sei meu nome, mas tenho aqui a passagem.

domingo, 30 de agosto de 2009

Grazzi Yatña

Tenho um tremendo sono ontológico hoje.
Conhaque.
Cairia bem.
Sim, pelo avançar onírico, um conhaque definitivamente cairia bem.
Onde paro ?
Onde parar ?
O solo faz a caixa de som tremer.
Paro no tremer. Suspirosa. Lua agora vermelha. ( Peito ).

Amanhã dizem que é domingo aqui. De modo que há aquele típico deslocamento de tempo, que leva consigo palavras. Coisa boba, como "domingo com cara de sábado". Convenção burguesa, que lucra com o tempo da ilusória infinitude. Da conversa infinita, ou da vitória de ouvir a mesma música por horas a fio, afinal, o utilitarismo nesse tempo deslocado está vencido, mesmo que não mais, não mais, a guerra possa ser ganha. A arte da Conversa, em que a conversa é vista como a arte suprema, que não deve ser pesada, que deve antes de trazer razão ( utilidade ), trazer prazer, as palavras que juntas não fiquem justas: palavras em prol apenas do prazer, em que mesmo o silêncio seja som, o da espera que sabe-se promulgada
em tempo finito. Eu, sujeito em predicado: idílio do que dizem apenas como dias, requinte com desiderato, anuência do sentido unívoco.
Bom mesmo é se adorar com exceção à regra.
Na verdade, se é que a verdade me interessa, o melhor presente é o não recebido.

E onde estou com essa conversa ?
Não sei.
Sei sim.
Ao lado da minha adolescência confessa e gozada (!!), também gosto de estar
na exatidão das palavras gratuitas.
Que bom.
Relaxo como se fosse agora, ombros e tal: a minha hora é linguagem que veio do depois.
..

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Grazzi Yatña

Nada ficaria por fazer.
Dissemos algo bem distante da preguiça, a vida toda, não lembro bem o quê pois o ninho era silêncio agitado, desembalando mundo e chacoalhando do acaso.
A intensidade da clausura mais linda nos trouxe o entendimento da fome sem conclusão de dor.
Ainda vejo as ruas como enquartelamentos dos vestiários, salvo alguns ataques de terrorismo poético mas pobremente sem encaixe de significado amarrados fatidicamente pela esperança. Ainda bem que tem você nu, desafiando todos os discursos e bem inserido nos gols.
Sempre gostei da nossa cidade, cidade que é zona de apaixonamento.Cogita-se liberdade só quem não a suporta em si.
As crônicas mais aceleradas, debochando do tempo-espaço entre um gole e outro, nos cabe perfeitamente: passado, presente e futuro é só um pouco de ridículo na fumacinha do meu cigarro nos sacando.
Existe o Sublime, após e mesmo antes da beleza. Belo é balbuciar. Sublime é o trovão
com relâmpago. Ainda mais se cai perto, ou se cai longe, iluminando montanha como se fosse fantasma enorme e visionário.
São três os estados da matéria: a ironia, a indiferença, a amorosidade. Com você, sempre tive isso de baixar a guarda e permitir o amor.
Quando a guarda está levantada,cansa mesmo, é a ironia, mas ela defende da indiferença, que dá um enorme sono de viver.
Claro que não é tão simples. Mas pra te dizer do amor, pai.
O que resta da experiência do sublime é uma espécie de categoria da memória, que podemos chamar de "O retorno".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Bourbon Está Ok.

Por Paulo Castro.





-ei cara você precisa pensar em subir na vida.

disse isso dando a cotovelada de sempre, antes de dizer a mesma coisa de sempre,

que consistia em propor algum negócio "inédito nas paradas" que já eram garganta de museu.

- tudo bem, um dia eu subo. o que você quer beber ?

- não quer nem ouvir ?

- bourbon ?

- pode ser.

pagou a conta, a do outro e colocou uma nota de cinco entre a coxa dançarina e o cano de metal reluzente e perfumado. uma piscadinha e quem sabe mais a tarde.

mais a tarde logo estará em silêncio, ele sabia, um silêncio na cama de molas, no chão, fumando na janela. bem de lá era possível ver a igreja e suas gentes que entravam, saiam, sem carregar nada de novo fora uns dez passos mais altivos que logo cediam à corcundez, mesmo nas crianças e nos flocos de neve. como sempre. era engraçado. era triste. engraçado de verdade sempre é um bom tanto triste, pensou e disse monocórdio para a foto de uma desconhecida que habitava única a parede.

aquela foto já estava lá quando alugou o apartamento e nunca vira motivos para retirar de seu pouso, a moça sorria em branco e preto e de onde quer que você ou eu ou ela a olhasse, sempre estaria olhando para nós. brincava que era sua namorada. fumavam juntos, ele assoprando a fumaça em sua cara sorridente, receptiva.

das vezes em que trazia mulheres para o local, não pensava na jovem mulher emparedada. mas raramente pensava em alguma coisa quando trazia alguém para o, seja dito, local. as mulheres falam automaticamente e se sentem muito bem, apenas você dando espaço para que elas assim o façam. sorria vez em quando, concordava entre tantos, sem nem ao menos saber, e isso bastava para que o sexo a seguir fosse mais eficaz que a igreja. dava a cada mulher, via pela janela, fumando pela janela ( antes de terminar o cigarro na foto de sua namorada ), que lá iam altivas, donas de si, cheias de certezas, oferecia uns trinta, trinta e cinco passos. engraçado, triste e relativamente inútil, na neve torta.

bem diferente de ficar na cama brincando com a mola solta que rasgara o estofado. desce, segura, pula ! no mais absoluto silêncio. até que ele e a mola adormecessem, de bem.

então tinha ou não tinha algum trabalho pra fazer. pedreiro, bibliotecário, observador de flores e pássaros. disso ele gostava. um velho que o contratava todo verão e pagava pouco, mas as recompensas valiam: via pássaros ( feios ou bonitos, alguns deformados, anormais, pela fumaça e o azeite citadino) que não constavam no manual, sempre ampliado, que o velho anualmente lhe armava as mãos para olhos. fotografava. fumava um cigarro e só então, antes de se levantar, sorria. pensava em como poderia ter sido a vida exclusiva de sua namorada, provavelmente já morta, diz ditado, pouco importa.

ou não tinha mesmo um trabalho para fazer, restando pular essa parte e voltar ao bar, ao cara do cotovelo e às dançarinas, já de noite e com alguma algazarra dos turistas, que não incomodavam por não irem fundo, sendo apenas turistas de superfície que eram. dos frequentadores, incluindo a sua, as banquetas eram cativas e os melhores ângulos para aquelas moças verdadeiramente belas e sem grandes falas, fora as músicas de Serge Gainsbourg.

- Bourbon ?

- Não quer mesmo ouvir uma parada que pode mudar sua vida ?

- Não.

- Bourbon está ok.

º

domingo, 2 de agosto de 2009

Ela

texto de Izabel Xarru



Guardo um porquinho, duas hienas, uma pata, três carneiros, uma sombra, um vagão, algumas árvores. Encosto a cabeça na cadeira. Guardo os ovos dentro de trompas de falópio, movimento os cílios, enxugo dois desterros e um vagão. Soa o tiro: sou amada e é verdade. Coloco dois terços num quarto, apago a luz, respiro (isso dói), trago o caminhão.
Entre seus ombros está um mundo de rococós. Ela confeita o bolo com tudo que não existe e cresce em mim como uma ave. Ela me leva, eu peso, ela me leva, eu afundo, ela corre, admiro, ela voa, eu caio no vagão.
Apesar disso que não armo, agradeço.
Não sei a quem. A algum circo. Tabuleiro.
Não, porque ternura.
A ela, talvez, meu único abraço marinho.
E a despedida dos afogados.

domingo, 26 de julho de 2009


Grazzi Yatña


Pano de muro ao deitar costas

incidiu suposição de espectro

e verteu viés.

Costas a deitar muro

rolando macias

na boca

da pele:

engenho.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

PAULO CASTRO - Arma do Sexo.


Próximo da meia noite você me aponta uma arma do sexo.
Bem perto da meia noite eu encho a boca de comprimidos,
com cuidado para não derrubar nenhum,
são lindos, perolados e rosas,
tenho gatos e cachorros em casa,
mas um tanto antes eu abri aquela garrafa de vinho que comprei com meu primeiro, porra,
meu primeiro salário,
e desde essa época ( eu usava uma gravata borboleta e me abaixava com os comparsas para beber no gargalo o que tinha de mais caro no bar),
bem assim desde essa época, ou um pouco antes,
eu já sentia o útero crescer entre meus pulmões.
E hoje já é amanhã e você vê a garrafa vazia de vinho,
tua arma de sexo filmada em labirintite,
e me diz: - Seu sedento !
Brinco com alguma coisa em sua bunda,
e digo que você ainda nem existe, o que é uma tremenda pena,
mas a polícia da arma do sexo tenta sentir cheiros de xoxotas
na minha cama de casal,
e comparar uma com outra, se foram juntas, em sequencia,
se gozei mais com essa do que com aquela,
se o gozo com você e sua
a sua xoxota, vai apagar de mim como um tiro de arma do sexo,
todas as lembranças e risadas junto aos comparsas,
exatamente essa polícia do sexo que faz com que você não exista
e eu possa mesmo assim brincar em lhe enfiar o dedo no rabo
e ser gostoso, mesmo que sua bunda ainda seja linhas pontilhadas
contendo uma carne desarmada, sedentária,
fora os exercícios anaeróbicos ridículos por definição
e algum David Bowie da fase boa,
mas isso foi muito antes da meia noite de hoje
da meia noite de ontem & amanhã,
e toda massa incluída, com suas xoxotas e meus choros deitado no chão, em uma cama de hospício, em camas de hotéis caros que nem me lembro mais e a irmã de um amigo que conta que naquela época, sempre bem depois da meia noite, eu chegava bem louco de cocaína sei lá e exigia quartos presidenciais e que a condição era terem vista pra piscina e tocadores de discos, que eu queria que todo o hotel tocasse as minhas músicas para você bem ver como apenas algumas meia-noites tornam um cara razoavelmente legal em um babaca total. E boa época de David Bowie ainda, convenhamos, até combinando com sua arma do sexo, e com essa maneira de ser sedento e carregar atemporalmente um útero entre os pulmões.
Toda essa conversa parece te enternecer muito e até você dá risadas, enfim, um sucesso de aeroporto, mas tenho que calar a boca completamente pela questão da polícia da arma do sexo exigir que você me faça engolir a sua xoxota, os pentelhos aloirados entrando no meu enorme nariz, um acesso de tesão e náusea, mas é o que a psicanalista armada sexualmente, uniformizada de banca de jornal & revistas liberais exigiu-te, bem na meia noite, ou um pouco antes ou depois dela, sedento ontem ou depois dela, você ou outra, você é em mim outra de si mesma e isso é a única explicação para seu amor por, caramba, por mim.
Me parece tão absolutamente óbvio o fato de sermos molestados ao nascer que não posso entender tamanha meia noite com guardas. E gostamos, apesar. Sedentos, contudo.
O fato é que pérolas e rosas fazem o efeito e não posso mais, nada mais, além de dormir o sono proibido, pedir que você entenda que em todo encontro a graça está nos desencontros ( esse filme joinha passando na televisão em "MUDE" às custas da ausência de abajour), que essa é minha maneira de ver a vida e que isso já está um pouco difícil de mudar, que fosse a lua, entretanto.
Você também quer contar uma história, se fazer interessante ( outra dica da pedagoga da arma do sexo), mas peço que apenas fale, me olhe e como nos desenhos animados antigos, musicados livremente, siga as bolinhas saltitantes do tempo em rádio relógio.
Logo mais,
, memória adiante,
será meia noite e toda a vida que a cerca em círculo foragido.
º

terça-feira, 30 de junho de 2009

Grazzi

Dejavuzinho.
Eu costumava assobiar em algumas madrugadas.Calma, eu assobiava quando a noite ia virando silêncio, na medida possível entre alguns risos energúmenos alheios.Então, no corredor, assobiava aquilo e aquilo que faria a qualquer tipo de serial killer indiferente, cheia de compaixão.E outra música saltava onde só se assobia onde o corpo é surdo. Carne no canhão do ritmo.Matei e nem fui ao cinema. E eu..cagadinha de Às, ouvindo os ecos:

"Essa nasceu de bunda pra lua essa nasceu de bunda pra lua"
Limpinha a poltrona, Ó..
Agora soquem nos cus.

sábado, 27 de junho de 2009

Diálogo

Grazzi fala com James

- Heinz é um ketchup. Relacionado a John Kerry por matrimônio, para um português. Bigode e tudo. Às vezes não não não igual sim, mas quase sim. Eu sou tão preciso que você é borrado.

- é normal. Batatas não suportam a pressão da mostarda e Elvis usava barba postiça porque não falava português de cavanhaque.

- Agora você é impreciso: cavanhaque ou cabratoque? falava ou fava? fava, minha pequena chickadee!

- impro viso, pequeno mogli. não fava faz favor!

- guise em seu não mogilalismo não (não é?), um guisado de mogilalalia um pouco desafinado. Me dá mogigrafia, mas não mogligrafia.

E agora?

mogiganga de moganguista

- crisalida mente batifunda sim (sim). afina o instrumento na lenha,
megamonte. Não me dê cami que te dou quase.

- cami dá e cami leva fora, mas camisinha não (não) é (não?) camisa com exceção de sapos. E agora, caminha para caminheta?

Silverado da Argentina desafinacami?

- capine a pino nada leva sem enxague (ne nada!). é agua de barrela descendo.
Não foi? Cruzou o Sinai?

- cruzou Sinai que monta um onanger que leva uma palavra de onomatopéia no saco de orelha dele,
em baixo do rusksack da peruca de orelha dele atrás do lóbulo da orelha inclinado para um lado dele

não lacrainhas, por favor

mas passa uma almôndega

Onde fica o Hotel Ipiranga?

- Boris cardume no Mar Negro grita: -Peixe não, Noruega!

Passa-me amêndoas, Óleo de urucum! a madeira deitou o lenhador.

Onde? Ali no pau de sebo, viola!

- voilà viola voilà viola voilà la là la là la làla tralalà voilà viola

- não tem voilà em seu jardim?

- tem sim, dentro do quadrado do girassol. tava vo alando no seu voilà, monsieur beija-folha!

- Eu tenho florescendo árvores de barata. Disto eu faço sopa de orgulho, o primo beijando de mimosa.

- lacraiei no risofonte polis.BZZZZZZZ


- hihihihi

terça-feira, 26 de maio de 2009


Grazzi

Desatolou poeira acordada num lugar antes da trilha.Lancei diferença de freio em flecha.Pingou livro e anotei desprezo no poema, um épico assaltou a chuva e foi mais por menos bem lascada.Quem sabe caduque permissão de atalho, a lama.

domingo, 24 de maio de 2009

Paulo Castro - Camadas.


Camadas.
Você é feita de camadas. Tal qual eu. Todos.
Mas quem ficaria assim com o osso do pé forçando a pele,
ao se esticar,
molhando samambaia ?
Quem mergulha em um lado da piscina,
para emergir do outro, saindo da água já de olhos abertos e em mim, pulo instantâneo, eu.
Camadas que começam, atingem um centro e recomeçam.
Barriga é costas.
Costas e terra. Barriga e sementes.
Mas tem o algo que se diz perdido, para sempre, arrematados curáveis de criar uma história
em que se possa viver dentro dela, sai das costas a terra, T.S. Elliot viveu pouco demais - mesmo tendo sido assim tão velho - para jogar sobre águas e samambaias,
os pés da força e da água em posse,
acusação de que somos Homens Ocos.
Você não se interessa quando falo de T.S. Elliot, ou dos lugares secretos ainda onde hoje vivem chamas romanas, imemoriais salivas sutilmente perfumadas,
mas caminha pelo quarto do hotel, sabendo que sei e que olho,
a dança da pintinha em seu ombro,
metonímia desejante que fode com a teoria das camadas,
acaba com os poetas impotentes,
e redireciona minha fisiologia para as fumaças que escapam
pela porta do banheiro,
de seu banho quente,
em que lava o meu sêmen meu como - imagino - teu & a coisa mais-natural-do-mundo,
enquanto camada boca, camada língua,
assobia daí uma canção que me faz
sorrir,
misturar-me ao forno ventre,
acender um cigarro e aguardar o momento mais displicente em que
jogará o roupão de banho sobre a cama
para poder me falar algo assim:
- Adoro peles felpudas e, venha, adoro sua nudez.
º

sábado, 25 de abril de 2009

Grazzi Yatña

Fui ali.
Então peguei um motivo, bati no vento que deu pedra e entrei.
Parecia tontice tanto aceno de grandeza em moinho.
Expliquei não, a trovoada me jogou um baticum e distraí razão.
Festa do arroz comendo jabuti e eu lá, soprando o sim, mordendo o não.
Deu em balão vazando bonito.

sábado, 11 de abril de 2009

Vestiário

texto de izabel xarru



Nem a alegria nem a tristeza vieram tagarelar aqui, com seu lencinho de prata. De longe, uma memória assoma: o medo é quem me reza . E o medo quase nunca é o que padece. Ou olhos afiados no trecho o benzem com armaduras e cisco pré-natal.

A última emoção foi no vestiário. Estávamos as quatro. Eu, uma inimiga (improvavelmente) tornada amiga e mais duas amigas. Uma delas assassinada no momento em que foi tomar o banho do outro lado. Quando chegamos a procurar, ela tinha a aparência de um rolo de sangue cinturado, cabelos na ponta. No mesmo ambiente. Não vimos nada, nem ouvimos. Ela só acabou. Assim: Fim. Ele ainda estava lá. Não teria por onde sair.

Nós saímos. Encontro as subidas em que os carros se tornam mais lentos, rua de terra, sensação de perigo. Queria correr, ir para longe, onde não pudesse ser vista ou suposta. Aquele homem pesava em meu corpo como um caminhão de ossos de museu, ainda escorrendo salitre dos músculos, muitos músculos. E me apodrecia as quilhas e navalhas.

Entro na casa em que eu passaria a morar em poucos dias. Ela ficava perto de muitas árvores em um bairro nobre, mas estava ligada pela minha vida ao vestiário que eu acabava de abandonar. Isso amarrou vespas nos meus tecidos, esfriando cada estação em uma mão que desce a coluna e quebra o cóccix.

É pior ler que as portas principais não estão lacradas. Nem os vidros.
E que, encostada em terra e mármore,
não há voz que me ouça o tranco.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Exposição


izabel xarru



Recolhi o naufrágio como um tecido agarrado à pele: ele me sussurrou 'incêndio' através dos ossos da minha mão/
desde então, o que ouve, em mim, é mais interno e tem acuidade de olho/ o que fala já não sou, /
o que anda é imóvel como uma certeza. /




Adoto o esquecimento: a seda não tem memória, só estampa/
Imprimo a lua nos acontecimentos/
porque/
aqui/
a brisa me basta em nome da noite. /
Todos os vocês estão mortos/
Todos os eus os velam/
e Deus é uma pedra convidada a me afiar/
Dentes/
Percurso/
e Imagens.

terça-feira, 17 de março de 2009

Na fala

texto de Izabel Xarru


Nem que fosse a fórceps. Dali, do labirinto externo que sugava para o ouvido a mais nociva doçura ou estilhaço de vidro no esôfago, teria saído meu primeiro filho. Foi dali. E vingou. Seja lá o verbo como seu destino. Filho que rompeu o ocre do afeto e corrompeu artérias, recaptações, alcances, atuações, cismas e otras cositas más.

Ah, sim. Vinha com força de pedra formada no fogo. Naquela antiguidade estúpida como um monitor de mortes sem mensura, aquele retorno que reproduz e não interpreta. Ali estão as bradicardias com queda de saturação, o rosto-hematoma, e vão apitando, a cada impulso milimétrico do Corpo, os seus sensores. Reunidos em gangs, entre iguais, os iguais, entre os rostos em deformação, os piores sons, as imagens que atravessam as cartilagens e incrustam nos Ossos, a perda irreparável de sangue e oxigênio no cérebro.

O Corpo: este que nos une e separa, como uma vírgula, ou uma caverna sigilosa, ou uma vigília que esmaga.

Agora vou dormir. Sabe o que é isso?

Ele será Seu.
O nome dele é Música.
Ele tem diásporas nas extremidades e ouro laminado em cada senha.
Átrios: entre e venha, no mínimo, Pérola.
Venha de joelhos, caso se sinta mais confortável.
O melhor, eu sei:
O mundo não produz duas anêmonas de mesma cor
e as hóstias, fulano, as hóstias...
nunca valeram a dor da Confissão.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Grazzi Yatña
Estranho.
gostava de elegê-lo simples
enquanto não soletrava e era mesmo.
Afirmei, tomou susto e
me olhou como fenômeno.
Achei graça e ele é tão febrilmente doce
sorrindo pra mim como se eu fosse triste
que avisei que não.
Achou graça, colocou amor como se fosse
a gente e é.

sábado, 14 de março de 2009

A tecelagem de membranas.

paulo castro


Uma das pernas tinha que esperar a outra encostar no chão, para arremeter ao alto, sem risco de queda. Pelo vestido florido, as cartilagens inchadas. Ela caminhava como se a dor fosse do chão e não de si. O primeiro sinal. O primeiro estigma.
Dedos curvos numa incredulidade minha, como possível assim, pegar e eu pegava com a facilidade a xícara e o cigarro. Pegava minha dor e fazia festinha de amigos com ela, as meninas trazem a buceta e os meninos trazem os risos para corroborarem minha piada exata.
E ela ali não vendia nada. Bem que eu precisava de um corte de cabelo, um fazer de barba, e ela ali como se não pudesse ser mais corpo a gravidade da corcunda.
Me olhou pelo olho que sobrava sem encortinamento da pálpebra funda, incomodavelmente teatral ainda em mim, "como vai vc, Fulaninha, que tal nesse fds a gente não se...". Lan house fede Douritos e peido. Lan house é o substituto da piscina do clube: quentinha de tarde não pelo sol, mas da molecada que mijava e ainda mija, mas hoje o faz nas bocas escancaradas das dependências e enlaces sacaneadamente chamados de sociais. Tudo bem que ontem eu mesmo fazia as contas com os carpaccios antropomórficos que levo na carteira. São as dependências que mantêm as coisas em ordem entre os vivos. "Fulaninha, vc me dá a honra e eu te dou banho na Jacuzzi com teto móvel, ai que sol mais go-to-so !".
E teve ( tempo, espaço, o que agora quentes querem ?) que a velha estancou na porta. Sistema Hieronimus Bosch de náusea no moleque chicletento na entrada:
- O que a senhora deseja ?
Mal se ouvia a voz (sem lamento, segundo estigma), mas aquele olho restante, cinza cachoeira, olhava para mim e a sensação era que não tinha mais eu lá, eu onde, eu quando, porra de Kant querelante, não funciona nos trópicos mesmo com a sinergia bestificante do ar-condicionado avec goteiras.
Ê já chicletento sabor framboesa língua preta splish cool rave night empurrando aquele corpo para fora, corpo sem conexão, sem multi-mídia, sem anti-vírus, sem RPG.
- Ô seu merda. Deixa a velha vir falar comigo.
- O dono disse...
- Porra, seu merda - levantando.
A velha sorriu as gengivas e uma derramagem de invasão: o cheiro de terra, algo como se Pernambuco se transformasse em um câncer geográfico, fazendo desaparecer os aromas de bacon, gatorade e restos de almoço lazanha mãe corrida sadia, claro, bolonhesa. Entendo o desespero nostálgico do ar-condicionado. Tipo: a mão do operário.
Solta. Solta, mancando, sorrindo, parece que cai, parece que é mais forte, cálculos vindos dos ciclos sol-lua, ela chegou ao meu lado, impedindo que me sentasse novamente: aqueles ossos protusos e rebeldes tinham força na mão de minha mão.
- Velha, o carpaccio...
- Jesus ! Salvador dos Homens.
- Caralho.
- Lindas palavras !
- Quem sabe um pão de queijo....
- Tua alegria que multiplica !
Tentei arrancar minha mão daquela coisa que fazia arrepio de uma forma pianesca. Mas eu não queria. Ou uma coisa sem nome fazia a cola.
- Jesus....obrigada por já me ter feito morta. Tudo ficou para trás, estrada, filho e cachaça. Tudo dos vivos agora não mais me chora, estrada, filho tiro. Vejo e visito o mundo dos vivos, vivo morta entre eles, um preso, outro crack, tem aquela com a barriga. Mas nada mais me faz sofrer. O senhor, Jesus, me fez morrer. Nada mais dói. Meu peito agradece em oração. Os vivos podem me ver e eu vejo os vivos, mas por sua graça....
- Senhora....
- E de Nossa Senhora....eles não conseguem....atravessar aqui, atravessar para mim, atravessar aqui onde está o paraíso do que me cerca e do que é minha carne.
A molecada com os fones de ouvido, nem aí. O Chicletento no telefone, falando, me olhando com ódio.
- Eu realmente não sei o que posso fazer por você, dona, eu...
- Atravesse.
- O que ?
- Meu bom Jesus, atravesse e me abrace. Sou sua esposa e não do outro que no inferno queima.
Não houve pensamento.
Não houve compaixão, dó, poesia, pena, comunismo, não houve.
Só houve que a abracei com força.
A tirei do chão. Levantei aquele corpo e segurei em meus braços. Costa em um, perninhas atrofiadas em outro. A testa dela ao alcance de minha boca.
Beijei.
E mais um pouco abaixo. Beijei sua boca. Salivas misturadas e a tontura de vinho.
Ao devolvê-la ao chão, ela chorava e sorria. Ela estava dentro de mim. E eu dentro dela. Não havia o que separar.
- Meu bom Jesus...sigo meu passeio pelo paraíso que para mim criou....e o Senhor sabe bem, criou para si. Saiba bem. Criou para si.
- Eu sei. Eu sei mesmo.
E cambaleante como entrou, ela saiu, atravessando o vidro fumê, ganhando o verão da rua, ou a carícia de um êxtase temperado.
Cinco minutos de nada em mim, de nada em lugar algum.
Metafísico ?
Nem de longe.
Paguei os minutos e fui cortar o cabelo e a barba. De tarde, tomar um porre. De noite, ligar para o disque-puta. Ou Fulaninha, se tivesse com saco de ouvir sobre seu mestrado.
Afinal, já não mais importava.
Nunca importou.
A lã da matéria feita nas membranas dos fatos. Furada. Estigma.
º

terça-feira, 10 de março de 2009

Sem acrobacias

texto de izabel xarru



Foi no circo. Claro. Precisei de umas pipocas pra engolir. E aquelas bebidas de saquinho, cor de k-suco.
Ele ia passando Gardel, fino, vestido preto, mocassim. Ela de vermelho-mosca. Os dois: vertigem.
Acendi o cigarro pra protelar.

Pra ela:- Tem fogo?
Ela sem piteira no cérebro: -Não pode fumar aqui!
Eu-bala: -Mas pode atirar (risinho escroto, vontade de vomitar).

Sabe? O tango não me serve.


Ele: -Por favor. Você....

Eu: Bolero não. Ou em segundos falaremos em vingança e gardênias.

E ele solta a mulher acetinada pra me gravar:
-Por favor, eu tentei...


E eu nada. Agora preguiça.
O macaco sobe na bicicleta.

Bolero por dentro.

Segundo turno:
Sentados na mureta, mar chuá.
Eu: - Arrede essa lua pra lá.
Ele: - Então?

Eu: -Sei lá. Pra que você acha que serve um malabarista?
Ele: -Pára. Estou agoniado.
Eu: - Que bonito. Vou tirar uma foto. Pra te esquecer mais rápido.
Ele: - E o chorinho, as promessas, o prato principal?
Eu: - Alaska. Matei o garçon.

Ele: uísque pra dois?

Isso. Enquanto, devagarinho, sumo da tela.


segunda-feira, 9 de março de 2009

Grazzi Yatña
Regresso e ali vitrola.
"Nem mesmo eu?"
Um botão fixamente bordado.
Nunca a vira antes assim, com resignação de casa em tecido roto girando.
Levanto assassina boa enquanto me trais com tanta fé em mim que chorinho não.
Não lhe disse lápide.
Apenas escrevi: "Por enquanto, nem estrelas."
E morri.

domingo, 1 de março de 2009

Grazzi Yatña

- Ei mãe! Não entendo quase nada do que você escreve mas sua letra é bonita assim, inclinada.

- Então me dá seu autógrafo?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña
Dessa vez nem silêncio
e atravessei
varal.


Por herança: sem visita fora de mim
no acontecendo eu.


Nunca pedi penico emprestado
bem assim bosta.


Não consigo sentir meu cheiro.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Galpão

texto de izabel xarru

Ir como quem não sabe. Era a condição. Suando frio, arrastei dois ou três embrulhos de uma aplicação de coisas em espaços cujo mapa era absolutamente pessoal. E a velha já fedia.
Ela:

-Há três dias me preparo para não enlouquecer se vocês tirassem uma ou duas coisas do lugar. A senha: parem aí mesmo. Não posso com isso. Sentem. Mas durem pouco em sua visita. Não tenho mais florzinha pra dizer. E nem apagar, quero que não questionem isso.

Ele: -Isso?

Ela: -Isso. As minhas intenções. Já pensei saber, como vocês pensam agora. E já fui como são; cada qual, sua vida, seu papel. Acontece que agora as coisas atravessam meu corpo-mente, que alma já não acontece.
Ele: Como é que alma não acontece?

Ela:-Ah, o bom de vocês é o quanto são previsíveis. Escuta: alma acontece quando existe um movimento em direção ao outro.

Ele: -Outro?

Ela: -Não o do livro. Outro mesmo, quem não é você, é outro.

Ele: -E quem não é você?

Ela: -Este é o problema. Se a caixa de ferros me atravessa, ela sou eu. Se os papéis, os brinquedos, a luz, então....até as pessoas sou eu, pela ...desencapei os fios. Agora devem ir. Sabem, fiquei cansada. E já me ajudaram com a nova pergunta. É um beco. É um trem. E desenho um fio vermelho em todo o percurso.

Coisa por coisa, o lugar era pilhas, pedacinhos. Desde bagos de feijão, sacos de ferragens e aviões de controle remoto até oliveiras plastificadas. Tudo às tripas, como uma brisa serena que ocupasse a mulher com as mãos. Antes que fôssemos embora, ela me olhou do fundo de não sei que mundo, e me disse então:

-Não é nada, não. A morte impossível é que dói agora.

Um cheiro de lixo ocupou todo o galpão. A dor dela me enojou. Escarrei ali mesmo, e saí antes que a velha me batesse, não sei como tive pernas tão astutas.

Chegando em casa, senti novamente o cheiro do lixo crescer por dentro do meu corpo. Abri a geladeira e descongelei toda a carne, para ver se eu vinha dali.

Sorri ao misturar sangue com perfume francês.




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Bilhete

Texto de Izabel Xarru



Tenho certeza que saiu um berne daquela cutícula rápida, enquanto ele escrevia. E foi eu ler que a gosma se enfiou no meu olho, ainda quente. Um cheiro de palavra velha solfejou na parede. A parede me adotou, cobrindo o bilhete. Depois dos mísseis de subterrâneo, cresceram caroços nas minhas portas.
E adeus.
Amém.






Grazzi Yatña

Balancei.
Fez um pedido quase ilegível,
num resto de papel.
Eram grunhidos os garranchos.
No lugar da assinatura,
desenhada uma carinha.
No outro dia me trouxe
um prendedor de cabelo feio
e achei bonito assim.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña

Sem hotel.
Lembrar acontece estrangeiros.
Tolo é ontem e neon cigarro.
Transito ilesa. E me dizem "Pedra".
Perdão! É que hoje é mantra e vendi caro. e cuspe.
Shalom.

Esquecimento

texto de Izabel Xarru
para Paulo Castro


Não. Não há o que dizer depois que o chapéu foi esquecido entre as latas e esse ruído sem medula, que não pára.

O valor depositado, mesmo que justo, com o tempo de gotejamento, já umidecia as babas do irretorquível, sim, sobre o telhado, nu e guardado.

Maria cantarola seu axioma predileto. 'Mija em mim a pobreza cariada, um escarro musical!'

Mija no que sou de hotel, e te levo pela mão, sim, levo, trago sua fumaça-corpo para a despedida, sim, sou boa nisso, me repita na caçamba, no hematoma, me repita enquanto sirvo papa de ferrugem e silêncio de branco arsênico .

Maria sabe que pode afagar os cigarros em seu braço. Você: 'Nem ligo.' Passou a fumar ainda mais, porque o pároco e o bueiro sempre se confundiam por dentro dela, como um sorvete que apaga.

O Pedinte recorre à catedral. Ele não sabe onde ler, e se agarra às paredes. Escreve numa pedra, pedido de socorro que afunda. O ruído continua. Vem exatamente sobre a cabeça, escorre, engorda o coração do porco. Espetáculo é como ele grita na castração.

Maria não abre a porta quando o pároco alimenta seus mortos. O Pedinte, depois da passagem, se circula. Vê algumas luzes na noite, toma um banho na praça, entre pivetes armados com fuligem de churrasco risonho.

O cansaço pesa como favores de família. Ele já não dorme. Levita.





quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O chapéu.



Para Izabel Xarru.



mananciais e telhados, vidros de ônibus e vontade de botar fogo,
já vi dessas coisas, sim senhor,
mas abarquei a vela sendo vento e por isso
a solitude te afasta de mim, amedronta, sabe ?
venha.
logo mais acima o Pedinte se foi e deixou o chapéu na frente da catedral.
apenas peço, para me manter acordado
que deposite ali qualquer valor,
mesmo que sejam chuvas ou telhas,
tais fotos outrora alguns,
uma lataria de unhas cortadas
ou o fósforo que ainda possa vir a funcionar,
e veja,
mesmo com a calma benfazeja do pároco,
que aqui te indicou o caminho de onde fica o
Homem que Conta Histórias.
Sem mesmo medo, traga até aqui o feltro e a órbita dos anos,
escolha algo e te falo sobre isso quando ainda era nem nascido aquilo,
se é do medo de si,
afinal, uma primeira vez,
a moeda, uma pequena moeda de valor quebrado
,de vírgulas condescendentes,
e entenderei que devo pisar fraco na fumaça
entre o senhor e aquele ali que te fez andar de tão,
mas tão longe,
do que o senhor era no esteio.
não se enfrente tanto se o medo bate,
afinal chuvas de espetáculo
corroem musgos e paredes das famílias,
e telhados por vezes ficam melhor em flores, terra e bilhetes,
sobre as lápides.
mas seja livre na escolha.
o pároco deve ter te falado sobre isso,
bem como falam os mitos de tal estrada onde o hoje pontua.
- Quem foi o homem que um dia lá deixou o chapéu e a ordem ? hum...essa é a pergunta dos que ainda esperam algo do abandono lá das malas,
na pensão reconstruída sempre
de Maria puta em chamas e fumaça densa, sem piedades,
mas sim, reconstrutora,
- vai-te benza-deuses-orgulhosos, vai-te e não nos incomode -
assim sendo já será, faça
:
passe-me todo o chapéu conteúdo,
esvazie logo aqui nesse nada que se abre no telhado do ar, o raio,
não saia daí por nada - vai gostar: a lassidão de esgotar-se finalmente -
por nada, repito,
até o dia
em que talvez eu volte,
ou te procure
no fio dos anos,
das três megeras domadas, ah conhaque ,
indicado pelo pároco, eu e tempo,
para que me conte e me alivie
da história, dos afagos e fátuas Romas,
do acaso
da andança suspirosa
enfim,
desespenrançosa raça,
do nós sorridentes então.
º

Sede


texto de Izabel Xarru
imagem de Éder Santos




Isso é porque nem sabem o quanto esperei com uma faca e um quindim na mão.
Agora aliso a seiva: não me conheço.
Coloco um ponto no fio de luz e invento a eletricidade.
Estou a postos, como um beco.
Depois doutrinei três ou quatro frascos de cloro ativo, gemendo.
Nas prateleiras tinha tudo que eu precisava: um aniversário, um enredo, alguns absorventes. Mais que isso: tinha leite sanitário.
E o filho desenha, na placenta, um pai.
¨¨

Ei, Bel! Você:

Grazzi Yatña

Saiu do corredor polonês segredo que era o brinquedo,
matado terceiro
e nascente do morto.
Bebeu o queimado não de mim
beijando pó de mico.
Raspou do prato
a sopa de ralo porcelana
e fez um fósforo de bueiro
no rastro.
Moça incandescente aquela, nela,
que já mora em mim.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Grazzi Yatña

Quando ler bom dia é a sorte
trazendo o poente.
Um cachinho de lambrusca por dormir
mofou no copo.
Azedume com nuvem branquinha cobrindo
também acho bonito mas nem bebi.
Dormi algumas vezes molhando o mar
com meu cabelo, peguei no vento
e fui parar na China, entre coqueiros.
Depois agora Lola lambeu a calçada no meu pé,
escolheu a página do jornal e fizemos
uma fogueirinha.
Ela é a minha garota!

Coffe Black - Paulo Castro




e tu, messalina:vou engolindo meu café

e tomando minha fumaça com uma certa mescla

entre mescalina e tu,

com uma certa calma

até mesmo por tu, desalma


não é papo,

mas(que) o novo

tenha tempo &

o velho se acalme,

são essas obviedades de chaleira

que me transformam em pó pra tu beber.


jogar fervendo nos olhos

fechar rapidamente a órbita

pra te beijar,mescla linda,

o dentro da pálpebra.


- porra, vai com calma no chantibon.º

Marca Foda - Paulo Castro


a gente marca um café

um uísque ( que "drinque" é coisa de cabaço)

a gente marca uns "bolinho" de bacalhau

a gente marca ouvir i-pod com o mesmo fone,

mas,

foda

foda

foda,

essa não se marca( touca)º

Ao Acordar - Paulo Castro.


ao acordar cedo, o sol ilumina coisas que no dia de vais e portas
vens
ficam esquecidas.
o sofá com o tecido rasgado pela gata.
a parede descamada com imagem de faca aguda,
&
mesmo por empréstimo,
o fogo do primeiro café.
o tempo que ele leva é nuvem que me cerca
lá, olhos ainda grudando, lágrimas e sujeiras sonhadas,
quem sabe,
talvez você , corpagen abandonada,
em tal tempo de nebulosa,
ansioso até a água ferver, observo que o chão amadeirado,
bonito como trilha, ou sentido passageiro da vida,
também é assim feixe faturado,
a janela do vizinho à frente
brilha, mas
a água está fervendo,
logo as pessoas vão estar
acordadas
e inutilmente
correndo atrás de alguma forma
de iluminação,
mas ainda,
a folhagem toda
na horta
respira cor.
º

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sombras nas Ostras



texto de Paulo Castro



"Depende do acaso que reencontremos ou não esse objeto antes de morrer."
( "No Caminho de Swann", Proust ).




º
Naquele dia o carteiro era outro cara. Nem ao menos vestido de amarelo e azul e uma caneta bic. Um senhor forte, alto, bem vestido, gravata borboleta, me passou as contas e em seguida me deu um murro na cara.
Limpei a boca e dois dentes na água e na luz. Respectivamente.
- Bom dia, postman.
- Ela é minha filha e nem sabe disso. Mas agora você sabe. Assobie errado, sabiá, e arranco seu timo para a moela de reconciliação familiar, vai tarde.
E se foi batendo a porta. Códigos de barra em hemorragia. Bala de gelo e o sofá com as overtures de Wagner na vitrola. Seguindo as regras, peguei papel e mandei algo como:
"Charlie Parker tovaca be bop com uma magnum . 44 entre os lábios".
Tomara que você goste. Demorou para sair. Logo antes do desmaio por inanição e dor. Precisamos temperar esses malditos cubos de gelume.
º
Coincidência ou não, ou como sempre, mais ou menos, a brincadeira era nova no dia seguinte.
Eu andava na frente, fazendo coisas cotidianas, cantando garotas de rímel e emocore, pegando o metrô, indo ao jockey. E você estava atrás de mim, imitando e repetindo cada ato meu. Com a câmera de filmagem em mãos. Mas captava sua própria sombra. Não me mirava. A objetiva nas suas canelas. A boca latejando. Ouvi você rindo quando o carinha do banco não aceitou as contas.
- Ai, que noja !!! Creda !!!
Mais ou menos coincidência. Atrás de mim você gargalhava. Um riso espasmódico de choro desesperado. O desespero: o sentimento mais fácil de fingir quando negociatas afetivas estão em jogo.
º
Ficamos um bom tempo nisso, e não recebíamos mais contas. "Débito automático". Ou "ande na linha, garoto". O teto de um templo despencar pode ser considerado um milagre? E sua sombra gemia bufanesca enquanto o dentista ( "Primeiro andar, segunda sala depois da Imobiliária "Futurex") enfiava as próteses e coçava o cu, o rabo e minha boca, cheiro de self-service. Existe soco no toba ? Dizem que é amor, os sensíveis.
º
Em casa assistíamos aos vídeos. Você fazia pipocas. Eu fumava, colorindo as gazes que faziam alascas no meu maxilar. Paredes, ruas, grafites, e sua sombra sendo eu mesmo. A minha. MAS É ARTE, TÁ PERDOADO ! De auto-estima estou afins de uma dose caprichada de heroína antes de tocar para o público de marinheiros que ao me alisararem ao porto ( sangue brotando da gengiva em jorros súbitos e sórdidos), alisavam tua sombra e pela primeira vez nessa vida, gozamos juntos. Pra mim foi urro de náusea, porém você quem diz e acha lindo & você é minha sombra.
- Ei, Jorjão, desce um conhaque ! Sabe que minha mulherzinha não passa da minha sombra ?! Bem, desce dois. Melhor. A dela, dupla dose.
º
O carteiro bem vestido sumiu para reaparecer um tempo depois. Quando o vi subindo a escada espiral, peguei logo o saxofone para me proteger.
Mas foi bastante citadino e apenas me entregou um bilhete dobrado à la Amigo Secreto:
" Atrás de um grande imbecil, há uma grande mulher. Queime isso. Presunto dos teus bagos no futuro do azeite fervente".
º
Mais ou menos. Isso das coincidências. Logo após o bilhete, novas regras no trenzinho.
Você andaria na frente, tomando atitudes e táxis e garotas de programa.
Eu filmaria tua sombra e tentaria - isolado - te imitar os atos.
º
A tarde na praia foi agradável, deixei a câmera cair na areia, moleque passou correndo, sujou a lente. De curto-circuito minha atitude medular foi correr atrás do pivete. Mas a sua sombra o abraçava logo adiante. SOCIALISTA ! SANDINISTA! DADAÍSTA ! Me ajuntei à vocês e fomos três espécies de anjos com íris de sol. Forçado, mas pra trucar: com uma torcida leve de cabeça, constatei:
Não havia sombra atrás de mim. De certo o horário, nada demais. Sei.
º
ECT= Eletro-Convulso Terapia.
ECT= Empresa de Correios & Telégrafos.
Dizem que em nosso paisinho de merda as duas coisas são muito eficazes, pontuais e cheias de ciência e organização.
º
Nos desabraçamos do ligeira e voltamos a pé para casa.
- Precisamos fazer umas trilhas ! Isso sim ! Te falta saúde e beleza !
Tropeçando no calçadão ficava mais fácil de dissimular: eu realmente estava sem sombra.
º
Quando preparamos pipocas(-lhe) e sangue com charuto e rum(-me), o vídeo deixava claro:
Sua sombra estava adquirindo cores. E alto-relevos. Batom cereja dizendo claramete poltergeists de poemas que não eram meus, mas louvores às bravatas e antigos amantes e um tal de "papai carinho no banho".
Você pulava nas almofadas, passava pipocas na minha gengiva e tudo aquilo era bem o máximo para você.
º
Seguinte, se um cara não teve pai, arruma um substituto. Um exemplo masculino. Acessei o mais próximo:
Fechei ambas as mãos e lhe meti bem no meio da cara. Querida, você apagou. Liguei a câmera, apaguei todas aquelas merdas de filmes raptores e acionei o GRAVAR em "close" na sua cara. Em poucos minutos ambos os olhos pareciam de guaximins atropelados na BR 220. A língua pendendo pra fora. Esse detalhe foi definitivamente uma zerada no placar da respeitabiliade erótica. O nariz soltava uma enxurrada de verdume couve com filetes de outros restos do almoço. Uma pipoca entupiu sua narina esquerda. A outra começou a fazer bolhas.
º
Só então fui conferir: lá estava minha sombra. Longilínea como uma seta que dava direto no aparelho de telefone. Eu não tinha apenas sombras. Tinha enormes asas negras. Obrigado, papai carinho nenem. Eu poderia voar rente à bocarra dos crocodilos no Zoo.
Então - mais ou menos isso, da coincidência - o aparelho começou seu ganido agudo e ritmado, vibrattio. Caminhei com calma, quase missão, das certezas dessa vida sem bonus track.
- Garoto.
- Eu mesmo.
- Você não deveria ter feito isso.
- Sei, em mulher, nem com uma rosa. Mas fiz. Prefere Parker ou Dirty Harry, papai ?
- Estou indo aí. E espero que ela esteja viva. De qualquer forma, não será agradável para você, garoto.
- Miles Davis também é de foder a xota da macaca. Venha, papai. A porta está aberta. É só entrar. Estou preparadinho, seu merda. E acho que ela não está respirando.
- Filho de uma puta !
- Isso aí. Agora chega de papo. John Wayne ou Bruce Wills ? Até mais. Li num livro: depois de quinze minutos sem irrigação o cérebro vira borda com catupiry. Inté, florista de pediatra subornado.
º
É isso aí, amiguinhos solitários !
Tenham um bom exemplo fálico e uma garota tutti-fruti-cult. Contem comigo nas confusões.
Mas agora seu herói predileto precisa arrumar uns truques por aqui.
Nos vemos em breve. E tudo pode ser corrigido, ok ? ( PISCA )
º

Dunas de Astrolábio

Texto de Grazi Yatña
Tu filmas: antes que a paranóia fizesse teu sair, correndo.Uma onda que nasce forte, e não perde força, apenas se adapta à menor quantidade de água.Alguém derruba uma cadeira, espirra areia, a câmera cai e lá está a praia. E nela, um pé passa rápido ( risos ao fundo ),rápido como uma mensagem subliminar. Como um pensamento que faz graça.Eu filmo: Quem não notou como agia Dirty Harry, amorosamente apertando o gatilho, quase com compaixão,sem mover um ato de reflexão; quem não notou que esse homem outro, pouco depois, filmou Bird sem precisar do blues, das cidades bucólicas, dos fantasmas, do jazz e até mesmo de Bird?Ao lado, talvez antes de qualquer lado, algumas palavras em choro: vendas amarradas no desembrulhar dos olhos.Buceta em dança das cadeiras? Olha que te faço engolir uma flauta inteira, hein!..Acordei com algo impregnado em teus cabelos te trançando.Nada te é pior do que o não-atrito.Greve de sexo sem sexo, sem greve, sem Grécia e o que de mim é tátil. Uma Alface lambendo as cataratas do meu Vovô querido.Amor entre signo e significado, lembra ? Mais que sal da terra, esse chato, sal do mar, sal daquela cena.Signos se afastam de seus significados para um e outro e em alguns momentos, se aproximam, certeiros: isso gera curvas...Alguém filma sem revelar:Algumas coisas que detestamos podem ser mais aliadas de outras que adoramos.Tão democráticos que aceitam com sorriso, o afastamento rancoroso do mundo."É triste? Bonito? Perverso? Patético? Esse é o começo ou o fim?" - dizem as legendas impugnadas.Esperem, meninos e meninas, não há título."Mas é filme, não é?"
Vocês não sabem?..

Armaduras Salinas

Texto de Paulo Castro
Nada te é pior que concordar contigo, porém, realmente sempre escapa algo, como os pés da classe média....como eu gostaria de bebê-los assistindo a goleada do Real Madri. Dar de beber pés ao manco, até mais, se eu pudesse comeria-me a classe média com maçã e rabinho retorcido dos apertados bangalôs de barro, aulas de argila, por exemplo, mesmo Sílvio Santos e as leis da física. Não de atoagem, nem de atonal, mas penso nisso já que do inverso oposto de ti é você ( carinho desnervado) ainda assim estou aqui, ainda que não me caiba, o zero atritoso.
- É você ( carinho próximo e eficientemente cotidiano) uma bobagem.
Estar e não ser, ou o que de mim é tátil, tu.Provas não faltam: como adivinhou que desejo para o dia da árvore uma máquina de lavar? Lavar pés em chás, escaldando tradições: repelido álbum de retratos em carrosel ( vovó pedindo socorro no arredondado do vidro espumoso). Tu. Você ( carinho até vai ).Honestamente como o riso sem motivo, acho mesmo que nos divertimos com essa armadura que matou minha mãe de parto ( pozinho, vovó, vá com crueldade para as caspas de Sílvio Santos e suas goleadas de madre superiora em comédia de atores negros), é a tua versão sua ( carinhos vamos batê lata) que me segredo inutilmente: até mesmo da língua assemelha sangue.
º
Homens e mulheres só existem por serem o axioma impossível.
º
Hoje aguardei o "timing" de sua saída ( carinho alface e sabão em pó) e chamei uma buceta. Das que não são dadas aos tremiliques. Ela tinha pés e foi de espantar a quantidade de histórias que me contou diante da negativa à sua nudez ágil. Eu ia lavando-a em carqueja enquanto soube por exemplo, algo como negociar prestações da faculdade, filho que mora em Minas, linda cicatriz de uma tal cesárea. Riu quando tremi se poderia fotografar. Apenas disse que era feio, mas riu bonita. Longe de ti. Longe de você ( carinho "ninguém faz igual"). E pensar que nosso último guru nos abandonou por não termos "faculdade alguma, sem condiçoes de aprendizado das velas coloridas". Só por causa da risada e dos anjos, nem ao menos negociou ? A buceta também ficou indignada em nosso favor, raridade são essas moças, tanto que riu à raia da urina, quando ia contando e lambendo a planta (e a couve ? alface e couve, por Deus !) do pé esquerdo. Estava com a gente e abria. Cabendo mesmo o zero, "lute, homem, não é um à esquerda como ela te faz crer!".
º
Logo você chega e eu a mandei embora. Saudades. Também fumava cigarros normais !De você ( carinho alface) espero a couve prometida no retumbar das latarias. De ti, que não neve mais nos meus óculos de leitura & veraneio, em coxas largadas na cadeira de praia.

Mareou (Quadratura)




Texto de Grazzi Yatña



Francamente? Não.O café sempre é servido meio frio já, como se no intervalo entre colocar água na chaleira e acender a boca do fogão, o gás escapasse todo.E você sabe mais do que ninguém como o chá para a classe média representa um ótimo escalda-pés.Não que eu não faça grande diferença em praticamente tudo, mas e daí, não é mesmo? O caso é que eu não sei realmente de que porra você está falando quase nunca e mesmo assim sempre acerto as quinas acumuladas.E antes que você diga que o inverso também acontece, eu digo que isso seria possível se não fosse por um detalhe: O inverso sou eu.Isso é o fim da picada para alguém que já tem mais do que recordes batidos e tem plena convicção de que o imponderável é nunca ter conseguido dinheiro suficiente para comprar uma máquina de lavar com centrífuga à vista. Confesso que admiro quem consegue ler praticamente todos os livros até o final e ainda sem bocejar. Mas só os que, nesse intervalo, nem respiram.Lembro de época em que determinados homens eram escolhidos a dedo por algum dado pirotécnico lançado verticalmente nas matriarcas do cu do mundo enquanto eu apenas não tinha nascido. Enquanto você escreve e lê amores, eu lavo e espremo a roupa suja na mão e ainda com um certo ar contrariado que nem me convence. Sempre serei neta de lavadeira.Chacot pra mim é bosta. Berlim é bosta. Pensando bem, você é um bosta. Não que eu fique muito atrás disto também, afinal tenho tanta preguiça desse lance homens-mulheres. Quando penso nas besteiras enormes que fabricam casais a granel tenho até urticária. Afinal é isso que são homens e mulheres, né? Um monte de frescura intercalada com grandes ares de sabedoria messiânica gay, variando quem dá o rabo pra quem de hora em hora pedindo bis.Mas ficam adoráveis lembrando de alguns sorrisos sem autógrafo.Pensando bem, nada disso.Chacot me lembra chacota, de Berlim lembro de "Asas do desejo" (era em Berlim, não era? Se não foi passa a ser agora). Porra de filme desgraçado que me fez sentir uma rolinha manca e que prometi assisti só uma vez por ano, todo o resto da minha vida.No dia em que uma mulher nascer perdoada por ter um lindo sorriso, eu chuparei picolé de café, nua, no polo norte.

texto de Paulo Castro

Você me pergunta, depois de passar tinta na sua nudez, azul deixando rastros do que combinamos, porque eu passo - e tomo - tantos cafés toda manhã, nas enormes xícaras que compramos em Berlim ou quem sabe logo ali mesmo, mas você prefere me fazer acreditar em Berlim e eu me submeto à hipnose que você aprendeu em Paris, com Charcot, ou talvez logo ali mesmo, onde compramos talheres e pratos, os sorrisos da multidão ao redor me confundem. Eu não conheço ninguém e todos parecem me conhecer, e mais, como se eu fosse uma pessoa muito educada, um bom-vizinho, alguém de certa normalidade. O tipo de pessoa que dorme no mesmo quarto que a namorada, que até mesmo tem uma namorada, e costuma vê-la nua, beija-a na boca com carinho, a penetra com vontade e goza(?- esses malditos livros !) lá dentro já que ela acreditaria em pílulas e não faria, por exemplo, brincos delas.
Não que você tenha feito brincos de anticoncepcionais - a concepção para você te faz vomitar, a simples idéia, o inocente início de conversa sobre isso - não, você nunca fez brincos com os 21 comprimidos, mas estamos em um ponto em que eu sei exatamente o que faria. Ímpar.
Não era disso que a gente tentou fugir? Quartos separados, um em que tenho meus livros ( você nunca exerceria censura sobre o que leio, mas o tom do seu hum-hum muda de lombada para lombada), minhas fotografias ( nenhuma sua, por mais que tivesse arriscado propor, mais e mais nos últimos tempos e com a preocupação com nossa "comunidade individual"), outro em que você tem seu som, fone ( para não me incomodar com SUA LOUCURA), espaço para dançar e o varal com carne de sol à janela, para seus sushis.
Como eu poderia tomar menos café? Hoje tentei chutar o jornal embrulhado em saco contra a garoa, e a única coisa que aconteceu foi a imobilidade e as gotas entrando pelo meu chinelo plástico, aquele que me deu, um de cada cor e tamanho...eu poderia ter me abaixado, pego com a mão, trazido para dentro de casa, deixado as gotas maiores e violentas pingarem no jardim e então pegar o jornal e ao invés de colar as páginas camada sobre camada sobre camada sobre camada, a sala, ler o que estava escrito...e se um filme bom passar na matinê ? Não digo para irmos de noite, como fazem os Outros, os que não entendem a nossa proposta de comunidade individual, mas seria bem rebelde, eu imagino, eu desejo, sem hipnose hoje, não que esteja montando um levante, assistirmos um filme às duas da tarde, não ? Até mesmo eu proporia que enchessemos os pacotes que seriam das pipocas com folhas e pétalas. Não é mesmo ? Sem onda ? Prefiro nem esboçar a tentativa. Sinto-me o panaca da escola tomando tanto e tanto café, correndo para o meu quarto para fumar cigarros, assim, normais. Através da porta que nos separa, sei que você está azul, e ouço seu riso.
Amor, já não é preocupante o fato de eu estar fumando cigarros...normais ? Acho que você não está sendo esperta, ou bem o sei, sua esperteza está em fingir-se o tempo todo em não se importar com nada, que eu possa ir embora, destrancar a faculdade, fazer carreira, aprender a dirigir, descobrir onde estão morando meus pais, se tenho pais, não me recordo ( "olhe fixamente para meu clitoris....assim....assim...."), afinal, é a liberdade, mas quem foi que disse que quero essa porra dessa liberdade, café, mais café, os dedos dos pés ainda molhados e frios e para não te perder preciso ter ao menos uma idéia original por dia, que nem sei mais se é minha, sua, apenas sei que a originalidade nada tem mais de original, já provamos isso, eu provei isso, mas você insiste. Provei, mas não falei. Ao contrário, liguei meu notebook em meu quarto e você no seu. Acionei a webcam e com o pau escondido entre as coxas e pêlos, simulava para você uma masturbação feminina e você se depilava com uma guitarra no colo, mostrando-me apenas os pentelhos que ia esfregando nas cordas, gravando tudo isso no mp3.
Como com os cigarros, oposto, não sinto vontade alguma de me gozar. Acho que se eu batesse uma punheta pensando na atriz do filme matinê ( um plano ?) eu teria um pouco mais de coragem, mas é impossível a idéia de uma ereção. Não que não tenha tentado, com uma das vizinhas mais sorridentes a mim, mas era algo muito errado de se fazer, errado, errado, errado, a palavra era obcecada na cabeça, pois a gente aprendeu que gozar era acho que religioso demais, ou capitalista demais, ou comunista demais, o fato é que eu sei que lá fora as pessoas têm ereções e que depois disso vem uma coisa boa. Uma imagem ! Eu sou menino e corro contra o vento para que a pipa vá mais alto e uma voz masculina muito bondosa diz "isso, isso". Mas é assim, sobre o banquinho, sua bunda azul e aparentemente dura, faz mostrar os ossos, quando fica na ponta dos pés e cola as páginas do jornal de hoje na parede. E eu sou livre para passar mais e mais café e fumar cigarros normais escondido no quarto sem esconderijo em vão.
Contanto que depois eu escreva um poema com as palavras que me ocorrerem à (minha?) cabeça, ou faça barulho que for com o mais novo instrumento musical que você trouxer da rua, disse-me faltar-nos um oboé.
Então você diz, de uma ou outra forma: - Você continua sendo meu tesão louco e livre !
Sorri e vai dançar com seus fones de ouvido.
Mas sabe, como é desesperadoramente lindo esse teu sorriso !
Lindeza sem nome. No dia em que eu conseguir descrever o que sinto quando você sorri, já aviso calado, chega, chega mesmo. Eu... tentarei sair daqui.
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