domingo, 2 de agosto de 2009

Ela

texto de Izabel Xarru



Guardo um porquinho, duas hienas, uma pata, três carneiros, uma sombra, um vagão, algumas árvores. Encosto a cabeça na cadeira. Guardo os ovos dentro de trompas de falópio, movimento os cílios, enxugo dois desterros e um vagão. Soa o tiro: sou amada e é verdade. Coloco dois terços num quarto, apago a luz, respiro (isso dói), trago o caminhão.
Entre seus ombros está um mundo de rococós. Ela confeita o bolo com tudo que não existe e cresce em mim como uma ave. Ela me leva, eu peso, ela me leva, eu afundo, ela corre, admiro, ela voa, eu caio no vagão.
Apesar disso que não armo, agradeço.
Não sei a quem. A algum circo. Tabuleiro.
Não, porque ternura.
A ela, talvez, meu único abraço marinho.
E a despedida dos afogados.

2 comentários:

Paulo Castro disse...

Existem maneiras de se dizer AMOR que ficam na tatatuagem da alma. Aqui há uma dança, dançarina corre em círculos e desaba, levanta e corre e desaba, enquanto um tecido azul vai descendo sobre o centro do círculo. Meio palmo do chão, o tecido é solto no chão. Iluminação também toda azul. A dançarina, nesse momento desabada, rasteja até o pano. Entra sob ele. Do alçapão sai outro corpo e podemos ver ( agora sou espectador) que o corpo conhecido da bailarina e o enigmático, fazem amor. Velocidade aumentando. Da sedução bem estratégica à foda. Então TUDO MUITO AZUL. OFUSCANTE. As duas - são mulheres - desaparecem, alçapão adentro.
A música - memória - continua tocando. Um som de telefone que ninguém atende. As pessoas não sabem se o espetáculo terminou. Se ficam, se vão. Depois de horas, os primeiros a abandonarem a platéia ( babysitter paga cronologicamente, sabe como é), o fazem quase com vergonha, quase escondendo os rostos. Muito aos poucos a sala fica vazia. E o tabuleiro dos sentidos nunca será o mesmo.
Beijos, Bel.
º

Grazzi Yatña disse...

Fogão a lenha quentinha nas bochechas da vovó, alfazema crescendo no pé de feijão, sem latarias fazendo aquele barulho de recicláveis por dentro do algodão.
Pode ser tão bom, simplesmente bom saber!

Beijão!